Entrada da Exposicao Pernambuco Cósmico de Suanê

A exposição “O Pernambuco cósmico de Suanê” foi a primeira exposição retrospectiva individual da artista desde seu falecimento em 2019. Realizada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, a exposição apresentou obras de todas as fases da produção artística de Suanê, lançando um olhar cuidadoso para sua carreira de setenta anos desenvolvida na cidade de São Paulo entre 1945 e 2020.

Com curadoria de Tálisson Melo, a proposta partiu do entendimento da permanência de elementos formais, iconográficos e técnicos consistentes que compunham um vocabulário próprio. O trabalho de Suanê evoca constantemente um espaço imaginário que atravessa toda sua obra: um certo Pernambuco no qual viveu sua infância e adolescência, convivendo ainda com a mediação de memórias da família, narrativas do movimento regionalista e uma série de discursos que foram inventando o Nordeste do país no intercâmbio com o Sudeste.

Foto da exposicao Pernambuco Cósmico de Suanê

A mostra explicita o imaginário da artista que insiste em florescer com frutos próprios das terras de sua lembrança: os costumes, as celebrações populares, lendas, histórias, personagens das feiras e cultos, do imaginário sobre a passagem do bando de cangaceiros, a vida nos engenhos, nas ruas, na aldeia, elementos da cosmologia Fulni-ô e católica que se fundiam. A presença contundente da religiosidade e transcendência em suas telas vai para além da descrição de cenas vividas, ela expande esse território pernambucano da memória-fabulação à escala do espiritual, do cosmo. Daí o título da exposição, O Pernambuco cósmico de Suanê, para afirmar um ponto de vista que está ao mesmo tempo associado ao local e ao universal, uma escala levando ao mergulho na outra.

Foto da exposicao Pernambuco Cósmico de SuanêFoto da exposicao Pernambuco Cósmico de SuanêFoto da exposicao Pernambuco Cósmico de Suanê

Os trabalhos criados por ela expressam sua conexão constante com seu território originário, vínculo mantido aceso por lembranças-fabulações que expandem um certo Pernambuco à escala do cosmo. Esta mostra também busca instigar o olhar e a reflexão sobre as vidas e obras de artistas que, como Suanê, trilharam caminhos genuínos para sua expressão, evidenciando um emaranhamento complexo entre referências artísticas diversas que coexistem para além do encadeamento “evolucionista” de uma narrativa canônica das artes visuais.

O trabalho e a trajetória de Suanê também são importantes eixos para se repensar os limites e papéis de categorias como “arte popular”, “ingênua” e “regionalista” na história da arte brasileira moderna e contemporânea, bem como as relações entre arte e espiritualidades.